Como foi a escolha de "Anna Júlia" como a primeira música de trabalho do primeiro disco?
É sempre a gravadora quem escolhe, não tem jeito. A gente tenta brigar, mas no caso de "Anna Júlia" a gente de maneira nenhuma discordou, a gente achava uma música bacana como primeira música de trabalho. Dali em diante é que houveram os problemas...
No caso de "Primavera", a segunda música de trabalho é que houve a pressão, por ser mais parecida, né?
Exatamente, foi um pouco mais problemático porque a gente imaginava que tinha que ser uma música um pouco mais pesada pra mostrar o outro lado do disco.
Uma coisa que chama a atenção é que muitos arranjos de sopros são compostos por vocês mesmos. Qual foi a formação musical da banda?
A nossa formação musical é muito parecida com qualquer pessoa da nossa idade. Todo mundo toca desde muito novo, onze, doze anos, mas ninguém nunca estudou muito a sério, é todo muito meio auto-didata, todo mundo fez uma aulinha aqui outra ali, mas ninguém nunca fez escola de música, nada muito mais sério do que isso. E a nossa maneira de fazer arranjo a gente acompanha as melodias e passa pro nosso trompetista que escreve elas na partitura.
As letras de vocês falam predominantemente de amor. Vocês de consideram uma banda temática?
Eu acho que não. Todo mundo pergunta isso pra gente como se fosse uma coisa incomum a gente cantar sobre o amor e quando você vai observar a música popular brasileira, escolher um compositor de Noel Rosa a Caetano, Chico, Milton Nascimento, a imensa maioria das pessoas falam sobre o amor o tempo inteiro. Porque você pode falar sobre o amor de mãe pra filho, você pode falar de amor de perda, de amor de esperança, de amor de saudade. O amor não é um tema, o amor é uma situação com muitos sub-temas.
Você concorda que houve uma mudança radical na sonoridade entre o primeiro e o segundo CD?
Concordo. Quando você tem a oportunidade de ficar dois anos viajando, com a mesmas pessoas, dividindo experiências, tocando juntos todos os dias, é inevitável que as coisas mudem. As coisas mudam independente disso na verdade. As coisas mudam na vida das pessoas e a gente vive coisas diferentes, vive experiências diferentes e eu acho que mudar é o natural. Eu acho que ficar igual é que é forçar um processo.
É sempre bom buscar a mudança?
Eu acho que isso não é nem uma busca, cara. Isso na verdade é tentar ao máximo ser sincero no momento da banda e não tentar fazer um disco de manutenção do sucesso.
Eu assisti a um show de vocês promovido pela rádio 89 FM, aqui em São Paulo no SESC Itaquera, junto com a Plebe Rude, Catedral...Daí eu vi que o Amarante toca baixo também, e ele é bem assim, o "fogueteiro" da banda...
(Risos) É, pois é. É aquele negócio que eu tava te falando sobre a vantagem de ter uma formação versátil, ao mesmo tempo que o Rodrigo (Amarante) vai tocar baixo numa música, o Bubu que toca baixo com a gente pega a guitarra. E tem outra música que eu toco baixo, que o Rodrigo canta, é bacana ter uma banda versátil por causa disso. Todo mundo pode brincar um pouquinho nos instrumentos, e não fica aquele negócio de cada um querer imprimir sua personalidade no que tá tocando. Fica todo mundo jogando pra música.
Sobre o "Bloco do Eu Sozinho", qual foi a argumentação da Abril Music pra tentar impedir o lançamento do disco?
É, na verdade não foi impedir. A conversa que rolou foi que eles não queriam lançar o disco desse jeito, queriam que a gente regravasse o disco com outro produtor e com outro repertório, repensando os arranjos, enfim, queriam que a gente fizesse outro disco. E pra gente não fazia sentido, a gente achava que o disco era esse. E aí criou-se um impasse e por conta disso correu o risco durante alguns dias do disco não sair, da gente ficar meio sem gravadora, e aí a gravadora voltou atrás e sugeriu que a gente remixasse o disco com outro produtor e a gente indicou um engenheiro de som pra estar junto com a gente e a gente foi a todos os dias da mixagem. Foi o ponto comum que a gente encontrou. Foi um pouco mais demorado e mais doloroso do que podia ser mas acabou saindo do jeito que a gente queria.
E o que você acha do MP3?
É, cara, eu acho complicado... Eu acho muito bacana essa democratização de alguma maneira, das pessoas poderem ouvir a música. Ao mesmo tempo você pensa que hoje em dia o MP3 ainda é uma coisa muito restrita às pessoas que têm dinheiro pra ter internet, às pessoas que conseguem ter um computador em casa. Mas você imagina que com o tempo isso vai se popularizar muito e vai virar um negócio muito mais corriqueiro do que é hoje em dia. Eu fico preocupado no entanto com a posição do artista, porque na verdade o direito autoral e o direito intelectual é a única coisa que o artista tem pra vender. É que nem você pedir pra um feirante disponibilizar as frutas dele na internet, pra todo mundo baixar de graça. É complicado, né? Você tira o emprego do cara de alguma maneira.
A gente viu você fazendo uma brincadeira no João Gordo, de que a carreira de vocês é marcada como antes e depois dos Ramones. É isso mesmo?[Marcelo Camelo uma vez declarou que não gostava de Ramones e, apesar de outros integrantes do Los Hermanos gostarem, todos ficaram com a polêmica fama de não gostarem da banda.]
É um negócio curioso isso... Engraçado ver como as pessoas reagem a esse tipo de colocação, porque é curioso que as pessoas não permitam que você não goste de determinada coisa, você é obrigado a gostar. Sei lá, é estranho... Eu não acho bom pra música, não acho bom pra ninguém. Acho que o rock tem muito a ver com tentar dar um passo à frente, tem muito a ver com tentar fazer alguma coisa nova, tem muito a ver com tentar propor alguma alternativa. Isso é o rock alternativo, sabe? É o estilo de música que propõe alternativas pro que é vigente. E acho que esse negócio de ficar botando no pedestal artistas catedráticos é um pouco contraditório com a postura do rock. As pessoas respeitam muito mais uma banda que copia Ramones do que uma banda que tenta ir além.
Eu já vi você comentando que gosta de Chico Buarque. Seu gosto é mais voltado pra MPB?
É. De uns tempos pra cá, principalmente, logo depois do começo do Los Hermanos eu comecei a ouvir muito samba, então a minha referência de samba é muito mais forte que essa de hardcore e de rock, sabe? E o Chico foi um negócio que aconteceu, assim, há algum tempo.
O tema de carnaval e o nome de seu segundo disco ocorreram por essa sua influência de samba?
Não, acho que não. O nome "Bloco do Eu Sozinho" tem várias razões de ser. Bloco do Eu Sozinho era um cara que saía no carnaval do Rio sozinho, fantasiado e ele fazia o bloco dele. É o lance da alegria que se basta em si, que não precisa de mais gente. Ao mesmo tempo o paradoxo do bloco. E é meio assim que a gente se sente. É meio assim que a gente fez esse disco, isolados num sítio, meio sem depender de ninguém, como se a gente quisesse alegrar só a nós mesmos.
E como surgiu essa idéia de ir pra um sítio pra fazer o CD?
A gente já estava com essa idéia antes de entrar no esquema da pré-produção e foi ótimo! A gente foi pra um lugar onde não tinha televisão, onde não tinha telefone, foi bacana não ter interferência de ninguém, não ter ninguém ligando pra saber como é que tava indo lá, e acho que foi muito importante principalmente pelas expectativas que se tinham em relação à gente, em relação ao que a gente ia fazer e tal. Foi muito importante pra gente fazer um disco sem ninguém por perto.
O que você escutaria se fosse pra colocar um som agora na sua casa?
Chico Buarque. Só tenho ouvido Chico Buarque, há uns seis meses.
A gente está fazendo a eleição dos melhores do ano passado. Qual seria o melhor álbum de rock de 2001?
Melhor álbum de rock de 2001? Pô, o nosso! (risos) Eu acho!
E internacional?
Internacional? Os Strokes, eu acho. É bacana o disco. Cara, eu confesso que tenho estado bem por fora, não tenho ouvido muito. Eu tenho ouvido muito Chico Buarque, então eu fico meio por fora da cena de rock. Eu sempre procurei ouvir coisas que saíam. O Amnesiac, do Radiohead é de 2001, né?
Nenhum comentário:
Postar um comentário