O mundo da música alternativo é realmente impressionante. As vezes, ao procurar em um canto, é possível encontrar bandas maravilhosas com um enorme potencial de destaque na mídia. Mas é exatamente isso que faz a diferença: estar alheio à indústria da cultura dá uma liberdade a essas bandas, o que resulta não apenas em obras belíssimas, mas no próprio processo criativo. E Sigur Rós [si ur rous] é a banda modelo, cuja carreira se enquadra perfeitamente nesse exemplo.
Para começar, a banda se formou em 1994 na longínqua Islândia (aquele paisinho gelado que quase nunca lembramos de sua existência), na capital Reykjavík. O líder, o vocalista e guitarrista Jónsi Birgisson já tinha participado de uma banda de grunge e é fã declarado de Iron Maiden. São fatos completamente surpreendentes, já que o estilo da banda se afasta ao máximo de distorções de guitarras ou levadas de bateria. Suas músicas, que chegam com facilidade a 9 minutos de duração , têm um efeito melancólico e obtiveram sucesso na tentativa de ser épica. Mérito do piano e teclados de Kjartan Sveinsson e, lógico, das composições e incríveis falsetes de Jónsi, que podem ser facilmente confundidos com uma soprano.
É bem provável que muitos tenham opiniões divergentes sobre a banda, o que é completamente compreensível. Afinal, o som do grupo contraria todas as atitudes imediatistas do mundo atual. Muitos podem se referir às suas músicas como "aquela chata que nunca acaba", ignorando os objetivos reais da banda. E é entre esses e outros pontos no mínimo interessantes (como a língua inventada pela banda para cantar suas músicas ou o modo de tocar guitarra com arco de violoncelo) que o artigo desenvolve, o mais analítico possível, como essa estranha banda é tão majestosa.
Formação e primeiros anos
O nome Sigur Rós (que significa algo como 'rosa da vitória'), segundo os integrantes, é uma homenagem à irmãzinha do vocalista Jónsi Birgisson, que se chamava Sigurrós e nasceu no mesmo dia da formação da banda (agosto de 1994). No início, apenas Jónsi, Georg Hólm (baixo) e Áugúst Gunnarsson (bateria) integravam o grupo. E foi com essa formação que eles se apressaram para gravar o primeiro álbum Von ("esperança", em islandês), que de pressa não teve nada. Isso porque as gravações demoraram meses e só foi lançada em 1997, sob selo da Smekkleysa, a mesma gravadora que lançou Björk, a celebridade islandesa mais famosa no mundo.
A primeira impressão que a obra deixou não foi muito boa, nem para os próprios integrantes, que teceram a ideia de descartá-lo e regravar tudo. A ideia só se concretizou em 1998 com o remix chamado Vonbrigði, que adotou tradução de suas músicas em inglês. Mesmo com os meros 313 cd's vendidos da primeira obra, a gravadora continuou com a banda, que teve uma adição importantíssima: o talentoso pianista/tecladista Kjartan Sveinsson. A reformação da banda foi um fator motivacional importante para a preparação do próximo álbum, que mudou totalmente a maneira de como a banda foi vista.
Ganhando a mídia e o reconhecimento
Em 1999 foi lançado o terceiro álbum da banda, Ágætis Byrju ("um bom começo", em islandês), que foi literalmente uma surpresa. O diretor da gravadora, que esperava a venda de no máximo duas mil cópias se deparou com o patamar internacional, no qual vários críticos aclamavam como o melhor álbum do século. Comparada com as músicas mais experimentais de Radiohead, várias faixas do álbum como a belíssima Staráfur e a bizarra Svefn-g-englar apareceram em seriados e filmes. A angústia épica e melancólica de suas músicas se tornaram perfeitas para cenas de forte emoção na televisão e no cinema.
O álbum foi bem artesanal: desde o processo de fabricação dos cd's, onde os próprios membros ajudaram a colar a capa; até as composições, que parecem ser feitas com o maior cuidado possível. A música Staráfur, por exemplo, é palindrômica. Isso que dizer que se ela for tocada de trás para frente, terá a mesma sequência de acordes. Jónsi também passou a compor várias músicas em uma lingua inventada por ele, a Vonlenska (algo como "esperançês"). A ideia, segundo ele, é fazer com que a melodia fique exatamente como ele quer, criando a harmonia perfeita. E ele conseguiu.
Nessa época, o Sigur Rós teve várias chances de aparecer na mídia de massa e se tornar uma banda mais conhecida. Foram, por exemplo, convidados pelos produtores do famoso David Letterman Show para tocar por três minutos no programa. Segundo Jónsi, a banda declinou o convite pelo tempo ser curto demais para suas músicas. Esse compromisso com os valores iniciais da banda, de manter a arte pela arte e não se curvar a interesses industriais, foi muito bem visto pelos fãs. Outro exemplo desse compromisso foi a recusa de contrato com uma gravadora americana, que prometia maior visibilidade para a banda.
Vocalista e guitarrista Jónsi
Após o término das gravações, o baterista Áugúst saiu para a entrada de Órri Páll, mas isso não mudou de forma alguma a química da banda. Três anos depois, em 2002, lançariam o próximo álbum, com um belo conceito.
Consolidação
Após o sucesso inesperado de Ágætis Byrju, a banda passou aquele período de encantamento em que tudo o que produzisse era considerado genial. Mas não é por menos: o álbum seguinte não teve nome, nenhuma das canções do álbum eram nomeadas e a contra-capa vinha com várias folhas em branco. A ideia era que o ouvinte inventasse o nome do álbum, das músicas e as letras (que eram em vonlenska, ou seja, não tinham sentido) da forma que lhe convinha. Era uma maneira de expressar seus sentimentos e estado de espírito através das obras de Sigur Rós. A ideia realmente era genial. As músicas, porém, resultaram em uma digestão cada vez mais pesada.
Foi na gravação desse disco, referido normalmente como '( )', que Jónsi descobriu uma das formas mais estranhas de se tocar guitarra. O antigo baterista Áugúst havia lhe dado um arco de violoncelo de presente, e o baixista Georg tentou tocar em seu baixo com ela. Foi um desastre, mas ao Jónsi tentar em sua guitarra, saiu um som único, que é confundido com o sintetizador nas músicas.
E a qualidade, claro, permanecia. A banda saiu um pouco da mídia, mas suas músicas ainda estavam lá. Hoppípolla e Glósoli, do quarto álbum Takk... (obrigado...) foram usadas em documentários do Discovery Channel e em outros programas de televisão. Os números de cópia ultrapassavam quinhentos mil facilmente. Isso, para uma banda alternativa islandesa, é impressionante.
Em 2006, a banda se juntou a uma equipe para filmar um documentario sobre a banda em seu país. O filme, tão patriótico quanto o próprio grupo, tem apresentações ao vivo e cenas fantásticas do país. O diretor, Dean de Blois, é o mesmo que produziu a animação Lilo & Stitch e Como Treinar Seu Dragão.
Último disco e hiato
O impronunciável Með suð í eyrum við spilum endalaust (Com um barulho nos nossos ouvidos tocamos eternamente), de 2008, foi resultado do fim da ressaca de exposição da banda. Vale ressaltar que essa "exposição" não se refere à cultura pop, ou mídia de massa, mas sim ao mundo da música e aos mais informados. O disco tomou o 1º lugar nas paradas islandesas e teve algum destaque em outros países europeus como Bélgica ou Noruega.
O som da banda está mais limpo, como se percebe em Gobbledigook. Tentaram cantar em inglês, mas os membros não são muito familiarizados. Apesar da juventude da banda, os membros de Sigur Rós entraram em um hiato desde 2009. Jónsi havia dito que estavam planejando um sexto álbum, mas só confirmaram que voltariam ao estúdio em 2011. A perspectiva é de um álbum melancólico, disse ele. Totalmente previsível.
O interessante desse grupo é a elevação do bem estar que ele possibilita. Apesar de suas músicas serem muito parecidas, tem essa originalidade que parece mais uma bênção. Afinal, uma música boa é aquela que modifica seu estado de espírito, e esse é o ponto que Sigur Rós consegue, quase sempre, alcançar.
baixe AQUI a discografia de Sigur Rós
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